Esta calmaria que precede a tempestade
Este silêncio nas árvores
Esta calmaria é uma breve trégua
Vista sua camisa, calce seus sapatos
Aguardemos nossas tragédias
Antes da chuva de sangue
Antes da chuva de sapos
Tambores silenciosos, os tons surdos
Que enchem os olhos de lágrimas (sussurrando, anunciando)
Que hoje é melhor ganhar as ruas
E passear sob as luzes dos postes
Compactuar com a velhice das ruas, sua alegria e dor
Antes da chuva de sangue
Antes da chuva de sapos
Era íntimo das ruas e as chamava pelo nome
Mundo pequenino, azedume póstumo
É que hoje é melhor ficar em casa sob as cobertas
E se esse prédio morrer e a cidade ruir?
Quando esse prédio deitar e a cidade dormir vem de volta o verde
Antes da chuva de sangue
Antes da chuva de sapos
"pra mim, contudo, basta saber que embaixo do asfalto
Estão ali quietas, intactas, ocultas, as pedras
Aguardam o dia da convulsão final, o dia em que todos
Os paralelepípedos perdidos de granito reaparecerão"
Depois da chuva de sangue
Depois da chuva de sapos