Nascido em junho sob a luz de um lampião
Na Pedra que pede Passagem pro Sertão
Bom dia seca, injustiça, fome e morte
Luz na pedra, faz o corte pra vender na Vila Bela
Separa o bicho sangra tora urêa capa, prende fura o bucho e mata
O que não mata, marque-ferra
Cultiva a terra e por ofício almocreve
Conhece todo nordeste e sabe trabalhar o couro
Toca sanfona, lê a Bíblia de manhã e se tem canto da acauã, corre que vem um mau agouro
Aprendi muito cedo com a vida
Aprendi muito cedo com a vida
E o que meu velho pai me ensinou
E o que meu velho pai me ensinou
Carne, leite, capim
Pedra, couro, cabaça
Dá respeito quem tem
Tem respeito quem dá
De hoje em diante minha terra tá marcada
O bicho que passar, dou tiro ou mato de facada
Onde começa meu limite finda o seu
Em briga de questão quem não mata já morreu
Desenterrado, cabra com rabo cortado
Tá com a marca da família na orelha, o bode é meu
Tá amassado, sai pra lá uh Zé Chocalho
Esse chocalho foi comprado, esse chocalho não é seu
Tem emboscada na pedra, Serra Vermelha, tem bala quebrando telha
Quem tá aí? Bença madrinha
E eu que só paro de matar, no inferno ou céu
Embaixo do meu chapéu agora é a minha casa
Essa terra que hoje tu briga
Essa terra que hoje tu briga
Amanhã sete palmos na cara
Amanhã sete palmos na cara
Para o dono da terra
Pra quem tá de passagem
Para homem que mata
Para homem que morre
Milho na mão, no peito um tiro de polícia
Mataram o pai e agora o filho quer justiça
Sai Virgulino, Levino e Antoin Ferreira
Entrar na cabroeira do bando Sinhô Pereira
Atira rápido no escuro da floresta, que clareia uma festa
Tem Xaxado, pisa o chão
Sinhô Pereira se aposenta e no lugar
O chefe agora vai se chamar: Virgulino, O Lampião
E já morrendo de sede, pisando em água
Malhada da Caiçara, atrás de mais algum coiteiro
Foi quando saiu por de trás de uma janela, a mais linda
Dá mais bela mulher desse mundo inteiro
Bordar um pano e dois metro de chita
Bordar um pano e dois metro de chita
Lampião e Maria Bonita. Lampião e Maria Bonita
Borda um c e um v
Em um lenço de seda
Quinze dias depois
Eu venho te pegar
Mulher agora acompanha cangaceiro
Nós sofre, mas nós goza, se tem filho, dá o herdeiro
O gato acordou querendo beber sangue
Acende o Candeeiro que o estrago vai ser grande
Briga de quina, pula o pé de macambira
Não mata, fere que tira menos três na emboscada
Depois das pias, embaixo do umbuzeiro
Muito sangue, morte, enterro no fogo da Maranduba
E toca fogo lá na casa do Diabo, solta o menino
Oferenda, esquenta o ferro e Deus na testa
Adeus Livino e a luz do olho direito, bala e espinho do chique-chique, escopeta de Jurubeba
Pra que dois se fecho um quando atiro?
Pra que dois se fecho um quando atiro?
Só preciso de um pra atirar
Só preciso de um pra atirar
Pro olho que remela
Clara, ovo de galinha
Pra ferida na perna
Água de genuíno
Nasci da morte e da morte não tenho medo
Eu pulo um riacho, que dirá pular um rego
Não tenho medo da vida nem da tristeza
Nem tem do boi velhaco, quanto mais de uma Bezerra
Eu que não quero macaco no meu socairo
Corta à toa apaga o rastro e bota fogo na caatinga
Na seca de João Miguel, autorização
Só anda com ordem na mão no raso da Catarina
Padece a sombra do punhal do véi Romão
Amarra a mão, olho por olho pra trazer escuridão
Jota Baiano ferra o rosto e o mais ligeiro
É Moreno escopeteiro no ponto do mosquetão
Os macacos que me vendem bala
Os macacos que me vendem bala
Morre com as bala que me vendeu
Morre com as bala que me vendeu
Entra pelo pescoço
A ponta do punhá
A pequena no bolso
A grande no borná
Esse punhal aqui é pra furar estômago
Fura outras coisas, mas é pra furar estômago
Corta o pescoço, deixa o corpo urubu leva
Arranca a língua, cabueta já não fala
Dorme nervoso e acorda assustado
Dá um tiro num soldado e acerta uma braúna
O padre Ciço diz que agora é Capitão e se a coluna preste ou não
Vai todo mundo contra o novo
Queixo de prata, cuidado com o que tu fala
Olha bem na minha cara, teu almoço hoje é bala
Finge de morto na rede, quem desconfia?
Entra na delegacia, e prende os macacos na sela
Quem mandou você cabuetá?
Quem mandou você cabuetá?
E o que foi que você falou?
E o que foi que você falou?
Zé Ferreira, é meu pai
Lampião, não me mate
Ajoelha, vai morrer
Sangue na terra seca
Quem tava perto, viu quem foi e o que falou
Trago lembranças do morto pro traidor
Ave Maria três vezes depois tu desce
Hoje te pago um tiro para cada prece
Nós se reúne que o pato quer virar ganso
Arma rede, pé descanso, para o descanso do pé
Pede ao coiteiro pra fazer uma feira boa
Pega água na lagoa, toma banho e faz café
Joga baralho, cachaça conhaque pedra, carne seca, vinho, Ginebra. Faz ele beber primeiro
Eu não confio, o cabra tá desconfiado
Quando fala olha pro lado e tá contando os cangaceiros
Vem que hoje no pasto tem boi
Vem que hoje no pasto tem boi
Pedro Cândido já me falou
Pedro Cândido já me falou
Tão dormindo na pedra
Na grota do Angico
Com fuzil marchetado
Cartucheira cruzada
Tem cangaceiro, tem cabra de Lampião
Com parabélum tiro clari-o sertão
Tem quinta-feira, vinte e cinco, mergulhão
Tem Déa Maria ou Maria do capitão
À noite, fuma no alto da pedra, luz que acende e apaga, não é nada, aqui a gente tá seguro
Acorda e reza, quatro horas da manhã, no rio o canto da Acauã e de repente escuta um tiro
É tanta bala que não via um palmo a frente
Se era bicho ou se era gente, se era poeira ou fumaça
Corre que a morte tá armada até os dentes
Quem correu viveu quem não perdeu tá feito a desgraça
Quem foge não escolhe caminho
Quem foge não escolhe caminho
Corre que a volante chegou
Corre que a volante chegou
Bala, sangue e fumaça
Raiva, roubo, vingança
Pra quem perde a cabeça
Lata de querosene
Lugar que só tem uma entrada é formigueiro
É boca de garrafa é cova de cangaceiro
Todo começo tem um fim, um sim e um não
Mataram Virgulino
Ninguém apaga O Lampião