key:
G (chord shapes in the key of D)
Capo on the fret 5
[Intro] A9F#m11D9E
[Soneto I - A meu Pai doente]
A9F#m11
Para onde fores, Pai, para onde fores
D9E
Irei também, trilhando as mesmas ruas
D9E
Tu, para amenizar as dores tuas
BmEA9F#m11D9E
Eu, para amenizar as minhas dores!
A9F#m11
Que coisa triste! O campo tão sem flores
D9E
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
D9E
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
BmEA9F#m11D9E
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
D9EF#m11A9
Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria
Bm7EA9F#m11
Indiferente aos mil tormentos teus
D9EA9F#m11
De assim magoar-te sem pesar havia!
D9EF#m11A9
— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
Bm7EA9
É bom, é justo, e sendo justo, Deus
F#m11D9EAF#m11
Deus não havia de magoar-te assim!
D9EAF#m11
Deus não havia de magoar-te assim!
D9EAF#m11D9E
Deus não havia de magoar-te assim!
[Interlude] A9F#m11D9E
[Soneto II - A meu Pai morto]
A9F#m11
Madrugada de Treze de Janeiro
D9E
Rezo, sonhando, o ofício da agonia
D9E
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
BmEA9F#m11D9E
Sem um gemido, assim como um cordeiro!
A9F#m11
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
D9E
Quando acordei, cuidei que ele dormia
D9E
E disse à minha Mãe que me dizia
BmEA9F#m11D9E
“Acorda-o!” deixa-o, Mãe, dormir primeiro!
D9EF#m11A9
E saí para ver a Natureza!
Bm7EA9F#m11
Em tudo o mesmo abismo de beleza
D9EAF#m11
Nem uma névoa no estrelado véu
D9EF#m11A9
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas
Bm7EA9F#m11
Como Elias, num carro azul de glórias
D9EAF#m11
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
D9EAF#m11
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
D9EAF#m11D9E
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
( A9F#m11D9E )
[Soneto III - Ao sétimo dia do seu falecimento]
A9F#m11
E ele morreu. Ele que foi um forte
D9E
Que nunca se quebrou pelo Desgosto
D9E
Morreu... mas não deixou na ara do rosto
BmEA9F#m11D9E
Um só vestígio que acusasse a morte!
A9F#m11
O anatomista que investiga a sorte
D9E
Das vidas que se abismam no Sol-posto
D9E
Ficaria admirado de seu rosto
BmEA9F#m11D9E
Vendo-o tão belo, tão sereno e forte!
D9EF#m11A9
Quando meu Pai deixou o lar amigo
Bm7EA9F#m11
Um sabiá da casa muito antigo
D9EAF#m11
Que há muito tempo não cantava lá
D9EF#m11A9
Diluiu o silêncio em litanias
Bm7EA9F#m11
E hoje, poetas, fazem sete dias
D9EAF#m11
Que eu ouço o canto desse sabiá!
D9EAF#m11
Que eu ouço o canto desse sabiá!
D9EAF#m11D9E
Que eu ouço o canto desse sabiá!
( A9F#m11D9E )
[Soneto IV]
A9F#m11
Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra
D9E
Em seus lábios que os meus lábios osculam
D9E
Microrganismos fúnebres pululam
BmEA9F#m11D9E
Numa fermentação gorda de cidra
A9F#m11
Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
D9E
A uma só lei biológica vinculam
D9E
E a marcha das moléculas regulam
BmEA9F#m11D9E
Com a invariabilidade da clepsidra!
D9EF#m11A9
Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
Bm7EA9F#m11
Roída toda de bichos, como os queijos
D9EAF#m11
Sobre a mesa de orgíacos festins!
D9EF#m11A9
Amo meu Pai na atômica desordem
Bm7EA9F#m11
Entre as bocas necrófagas que o mordem
D9EAF#m11
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
D9EAF#m11
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
D9EAF#m11D9E
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
[Outro] A9F#m11D9E