A sombra do pé de mangueira
Dava um tapete de folhas secas
Que mãe varria na segunda-feira
Num quintal grande, sem cercas
À beira de uma avenida
Pista longa, gigantesca
A sombra do pé de mangueira
Era o chão já enlutado
Pelo futuro, pelo fado
Da vida una e derradeira
Da morte de todas as coisas
Incansável, rotineira
A sombra do pé de mangueira
Era cadeira para ver o céu
Do Sol, das aves ligeiras
Inspiração pro meu cordel
Meu leito pra contemplação
Ao que escrevo no papel
A sombre do pé de mangueira
Fez de mim um arguto canhoto
Decantar a vida passageira
Dela quando eu era um garoto
Depois que a ceifaram no quintal
Nunca mais vieram os gafanhotos
A sombra do pé de mangueira
Era a vileza das coisas de verdade
Que por muito ficam na primeira
Palavra que traduz saudade
Por muito ficam na primeira
Palavra que traduz saudade