Porque estou nu
Me vês
Quando vestido
De mim
Quando imbuído
Do bem
Vezes em que fui mais
Ignoraste-me
Ver minha pele
Te enojou a alma
Mais do que meu sangue
Em tua calçada
Nas mãos dos teus filhos
Os meus filhos sangraram
E teus bolsos mal pagaram
O funeral
Porque te vestes
Do meu suor
Talvez temas ver
O meu pior e meus trastes
Te envergonham
Tanto quanto minha cor
No noticiário
À ideia de brasileiro
À ideia de conterrâneo
Um lixo que ninguém quer
Porque és cristão
Não falas em Oguntê
Marabô, Caiala, Sobá
Oloxum, Ynaê, Janaina
E Yemanjá, mas festejas
O Halloween sem pensar
E todo mistério se move
Por trás do não querer ver
O mar que te incendeia
Antes do óleo chegar
Às águas que te banhavam
E ao ar que te abençoa
Antes de tudo t'o furtarem
Mas minha nudez ainda te surta!