(Em, C)

Eu tenho um quarto apertado e isso arranha o violão.
Tenho andado apressado, e isso estraga mais o chão.

Se eu fizesse a boa obra de falar
e falasse a boa prosa de escutar,
se escutasse a boa voz que vem do mar
até podia me afogar!

Se eu fizesse alguma coisa pra beber.
E tivesse outra coisa pra comer.
Se eu mordesse a minha língua
Ah, eu podia me envenenar.

Se eu escrevesse uma canção pra eu cantar
num pedacinho de chão pra eu plantar
uma rosa, um beija-flor.
Uma alegria pra eu chorar.

Se eu tivesse alguma tela pra pintar.
Uma santa e uma vela pra rezar.
Uma casa na favela pra morar...
Quem me dera!
Quem me dará?
Quem quiser, vá!
Eu vou ficar...

Com um pedaço de chão,
um pouquinho de nada,
um tiquinho de pão,
um copinho de água.
Uma lua de queijo,
uma rua de lama,
uma loira pro beijo,
uma nega na cama!

Eu tenho o quarto apertado. É quase um quarto minguante.
Eu tenho andado apressado. Não ando mais como antes.