Na noite de ventania
O arvoredo se escabela
E eu fecho os olhos no escuro
Porque a saudade atropela
As lembranças ficam claras como na janela
Coração alerta, alma sentinela
Na noite de ventania
O arvoredo se escabela
Na vigília dessa hora
Quando a alma, insone, vela
Surge forma nebulosa
Turvos discos de aquarela
Aos poucos a silhueta
Livre, leve, esguia e bela
Se desenha na memória
E define os traços: É ela!
Agora sei quem vai chegar
Ouço o ranger da cancela
É leve seu caminhar
Desliza em brisa a chinela
Sinto o perfume do lar
No tempero de canela
Esse aroma de pomar
Que me vem do corpo dela