Quando cheguei aqui não esperei muita coisa Mas trouxe no peito o peso de sonhos O asfalto quente de dezembro Me recebeu em silêncio Porque a cidade não tem olhos pra quem chega O tempo aqui não anda, desliza, escapa A janela tá fechada, mas os sons viajam O mundo dá voltas em torno de si, eu sei Mas prefiro parar e ver a poeira brilhar na fresta A cidade te devora aos poucos Meu caro, Deixe estar! Ser devorado é viver Entre o caos e o despertar Trago no peito uma pátria inventada Onde o futuro é uma lembrança do que já se foi Quando o presente cansa Me refaço em sonhos que deixei pra depois Sou um estrangeiro dentro de mim Um retirante sem porto, nem mapa Procurando o que perdi faz tempo Mas talvez nem fosse meu A vida é um itinerário incerto Você embarca primeiro O destino vem depois Muitos já passaram por aqui Cada um com seus próprios nós A esperança é uma moeda gasta sem valor Que gira no ar sem escolher um lado pra cair Nem por isso me dou o luxo de parar Prefiro a queda a nunca tentar subir Se você acha que o destino é o fim Não! Nunca foi Por isso firmei o passo Pra sustentar o peso do tempo Só por hoje Vou caminhar Sem julgar A cor da poeira na calçada