Nesta grande mala feita de madeira Suja de poeira que sai do estradão Eu abro e lhe mostro meu bom camarada São coisas guardadas de um velho peão Por cima um berrante bocal de platina E as rédeas de crina do meu alazão Em cada objeto que eu olho e repasso Existe um pedaço desta profissão De cara se encontram as botas sem solas E numa sacola meu velho gibão Uma calça velha de bolso rasgado Onde estão guardados guaxuma e picão Herança trazida das rudes quiçaças E junto a carcaça de um velho lampião O vidro e o pavio perdeu-se por certo No imenso deserto de um bravo sertão Tem uma medalha debaixo do arreio Quando no rodeio eu fui campeão Na velha moldura esta o retrato Tirado no mato defronte um galpão Estamos em cinco e meu velho de lado Na frente deitado o amigo sultão Meu pai foi embora no adeus derradeiro E os três companheiros não sei onde estão Agora deitado na rede dos anos Pro meu desengano não tem solução Eu vejo meu laço num canto jogado Ficou ressecado não pus mais a mão As veias guasqueiam igual um chicote E faz dar pinote no meu coração O que tem na mala são obras de arte Que fizeram parte desta profissão