Meu coração é uma escola erguida Onde passa uma avenida E não dá nem pra escutar o próprio pensamento A minha voz é uma voz cansada De tanto cantar tanto pra nada E de vez em quando ela quer me abandonar Eu já não tenho mais vias de me afastar Porque o caminho mais fácil me enoja E o mais difícil me quase mata E é tudo cada vez mais lento Porque a vinte anos atrás eu taria é agradecendo Por ter comida, por ter sossego Mas o conforto é um conforto que eu não posso mais me dar Eu não encosto minha cabeça no travesseiro Enquanto a mente funcionar É idiota, mas é só assim pra ela não me abandonar Eu tomo doses e doses de cafeína Pra ver se algo me fascina Mas o tédio sempre há de continuar E a vida tende sempre ao tedioso Então eu já tô preparado Mas o preparo não impede de doer Eu jogo cartas, eu vejo vídeos, escrevo letras Meto minha cara em um monte de tetas Eu faço tudo que eu posso fazer Se a vida é tipo um jogo, eu quero me jogar Da janela do terceiro andar Não é pra morrer, é só pra machucar É pra sentir que um dia eu de fato vou morrer E de alguma forma entender O que é que isso significa Eu não tenho nada a perder Por isso é difícil manter Minha mente sempre a aprender Algo, algo Eu não tenho nada a dizer Mas eu digo mesmo sem ter Talvez isso que faça eu ser Algo, algo O que eu falo é sempre muito amargo E mesmo apesar de sábio Ninguém se interessa a ponto de raciocinar E eu sou sempre visto como pessimista Tento clarear a vista Mas vocês sabem muito bem que às vezes não dá Eu ouço artistas alegres Pra compensar o meu temperamento Pra não virar alguém insuportável Mas não dá mais pra voltar no tempo E eu sei que o que eu faço não faz bem pras suas saúdes mentais A alegria é superestimada Ela não vale nada demais E quantas vezes eu já a tive e olhei pra trás Em busca de inspiração na minha tristeza Porque é ela que me dá gás Mas se eu buscasse a felicidade Vocês tariam ouvindo Espaguete Ou Jota Quest E não a mim, seus animais Ninguém te obrigou a dar play Não reclame, eu te avisei Mais de 10 minutos, você é burro? Burra? Não tem nada bom pra fazer? Nenhum filme que queira ver? Ninguém quer te dar nem comer? Trouxa, trouxa Faça como eu, busque sentido em outras pessoas O seu PIB cresce ao exportar suas decepções Dói um pouco menos quando a sua mão aperta uma bunda E é quase suportável quando apertam seu coração Se houvesse sentido, eu taria mil vezes pior Graças a Frederico eu me sinto muito mais só E essa solidão ao menos mostra a minha impotência E o desgosto vira puramente a sua consequência Ó pátria amada, Brasil Por que és um conceito abstrato e não real? Se o meu saudosismo e esse protofascismo fosse algo Do mundo material Eu iria de encontro a ele Pra viver um grande amor No seio desse utilitarismo racional Um sistema tão longe do ideal Mas que abraça a minha vontade de ser sempre radical Sem sair do lugar Eu não tenho nada a perder Exceto o meu próprio ser E a reputação a manter Viva, viva Eu não quero nunca mudar Eu só quero me acostumar Pra manter a minha soberba viva Viva Eu me sinto tão superior Só porque eu sei que não sou A contradição é a minha arma Arma Tantas vezes já atirou Quase sempre quando não estou E tão facilmente sangra a minha alma Alma A vida é muito longa pra eu me preocupar A todo tempo com o que eu irei me tornar Mas se eu já tive a visão de que eu vou ser um lixo Essa cena toda não carece de sentido E se não dá pra chorar o leite derramado Eu choro o leite que ainda estou por derramar Um leite tão salgado quanto o mar mais vivo E as minhas esperanças tem a forma de uma lesma Foram mais de nove meses pra eu parar de pensar em Isadora E a consequência disso me ataca toda hora E afeta o dia a dia de uma forma que eu não gostaria de aceitar E o tempo todo eu tenho que ouvir as mesmas coisas das pessoas Que eu já resolvi dentro da minha própria cabeça E eu finjo que ainda devo escutar Mas eu não aguento mais E na verdade, eu aguento e escuto pela milésima vez A minha atitude tem até melhorado A minha saúde física e mental também Mas o mundo ao meu redor ainda é o mesmo Então eu mudei pra quê, pra quem? Se tudo que me cerca é falho De que adianta esse sonho de ser perfeito? Se a vida é tipo um jogo eu quero me jogar Da janela do terceiro andar Não é pra morrer, é só pra acordar E aos poucos me vingar Quando vocês souberem que eu sou efêmero também A minha imagem vai fazer falta E os detalhes antes não vistos vão passar a transparescer Eu agradeço a Deus por tudo Mesmo não acreditando muito E mesmo tudo sendo algo ruim É melhor sentir isso que não ter início nem fim É isso que vocês não entendem Eu prefiro o lixo que o nada Eu prefiro um ódio sincero Que uma compaixão inventada Vocês nunca me dão ódio E me botam numa bolha Eu me sinto tão longe de tudo Como é que ninguém nota!? Toda música é um grito Todo verso é um tiro Você diz que eu sou contido porque não percebe isso Se a vida é infinita eu quero conformar Com as regras que o Universo dá Ao invés de buscar uma alternativa Que não existe Não existe Se ela existisse eu ia ignorar Por ser impossível de alcançar E eu olharia na tua cara e riria pra te zoar Pra você ver que eu não ofendo só a mim mesmo Que no fundo eu sinto algo Que eu quero muito te mostrar E a escola que é meu coração aumenta seu volume Na avenida dá-se um acidente Duas pessoas morrem