Quando me perguntam Porque eu não deixo o campo E vou morar na cidade Eu sou sertanejo de origem cabocla E mudar meus costumes não tenho A cidade é rica, mas não tem sossego O campo é saudável tem mais liberdade O campo é o berço da minha família A minha história ali começou Aquele pau d'arco do baixio É muito mais velho do que meu avô Aquele coqueiro da margem do rio Nasceu de uma muda que mamãe plantou Aquela mangueira do meio da várzea Faz parte da nossa fiel parentela Nos tempos de infância, meus tios e tias Todas tardezinhas iam brincar nela Pela lei das árvores nós somos parentes Das outras mangueiras que nasceram dela As galhas corcundas daquela oiticica Já se acostumaram a me balançar E os passarinhos que voam felizes São nosso vizinhos moram no pomar Toda madrugada eles cantam juntos A canção do dia para eu me acordar Aquelas montanhas Que emendam nas nuvens São formas de encantos de antigos reinados Aquelas palmeiras copadas de verdes Parecem fantasmas de velhos soldados Que estão vigiando o livro do tempo Onde estão escritos meus antepassados Aqueles lajedos em cima uns dos outros Me servem de escadas janelas e de vão De lá eu percebo tudo que se passa Na alma da serra no rio e nação Ali eu contemplo todas 5 horas O céu nos doando a luz da manhã Ponteio a viola deitado nas sombras Faço um travesseiro de folha e raiz As plantas me curam As flores me alegram E o banho da fonte me deixa feliz Eu não tenho inveja das cidades grandes Eu moro no canto melhor do país Canto a dor da terra E meus irmãos caboclos Se emocionam com minha canção Ali ninguém fala em crime ou em guerra A paz mora dentro do meu coração Por isso agradeço a mãe natureza Por ser cantador e viver no sertão