Ele fez um banco na calçada Pra depois da lida se sentar E ficar ali sem fazer nada Esperando alguém pra prosear. Toda noite no fumo de corda Ouve a mesma história e pede bis. A pessoa é sempre um réu confesso E ele é algum tipo de juiz. O tropeiro fala de gado; O operário, do seu patrão; A esposa, daquele safado; O garoto, bola e pião; O vizinho, do outro vizinho; O amigo, do seu traidor; O culpado fica quietinho E a beata fala de amor. O rebelde fala bobagem, Candidato, disso e de si; O contente, libertinagem; O tristonho, de colibri; O prudente, missa e praça; O errante, de acaso e adeus; O vadio, jogo, cachaça; E o velhinho, medo de deus. Ele fez um banco na calçada Pra depois da lida se sentar E ficar ali sem fazer nada Esperando alguém pra prosear. Toda noite no fumo de corda Ouve a derradeira e vai dormir. E amanhã na hora da preguiça, Na calçada vai se repetir: O tropeiro falando de gado; O operário, do seu patrão; A esposa, daquele safado; O garoto, bola e pião; O vizinho, do outro vizinho; O amigo, do seu traidor; O culpado ficando quietinho E a beata falando de amor. O rebelde falando bobagem, Candidato, disso e de si; O contente, libertinagem; O tristonho, de colibri; O prudente, missa e praça; O errante, de acaso e adeus; O vadio, jogo, cachaça; E o velhinho, medo de deus.