Querem podar seu canto Lhe revender na feira Na rinha deu-se o espanto Por tanto ser quem eras Um animal, um santo Um tanto pai da terra Querem matar-lhe moço (com seus tipos e tamanhos) Alçar-lhe num cargueiro (seus jeitos, seus defeitos) Pintar seu corpo todo E te lançar na tela Feito um milagre torto Um romance morno (foi tu gemer num canto) Movido a manivela, mantido por tabela (ele gozar na rede) E não se sabe mais O que fazer de nós Um vagalume disse Que o homem ia se acabar a sós Na lancinante toada arrota a rua, venera a lira Vomita a fábrica sua ode à espada, vegeta a vida Sob a floresta, avessa ao verso, presa ao limbo do obvio Qual arrojo disputa num indulgente desejo Qual sílaba nua num tântrico tédio A tática hominis 'in loco' decanta De tanto que a ordem mal paga, venera Qual vento, a moeda moeu toda a dança E foi-se quase tudo virar fingimento Cidade, cimento, produto, palavra Em ordem seguimos, sentados seguimos, sedados Seguindo os seguidos, a míngua da besta A margem do abismo, amando amarrado Gemendo algemado em pleno verão de dois mil quatrocentos e trinta E sete mil novecentos e cinquenta e sete Sangrando adestrado enquanto o ovo canta um milagre Aos olhos carentes de sua mãe, aos olhos inocentes De um boi abatido E não se sabe mais O que fazer aqui Ouvir um velho rock Dançar com a morte E com você fugir A gente vai levando a gente nas costas há tempos A gente vai enquanto houver respeito Pelo nada, pelo novo, como ao universo todo Torto, pelo outro que é você e pelo que não dá pra ver Que tudo é tão bonito e tão finito Enquanto nasce um grilo, morre o filho do mosquito E a formiga também sente, como o bicho que mente Eu não vivo sem você E não se sabe mais O que fazer de nós Um vagalume disse Que o homem ia se apagar a sós Pedro que amava ana Que amava joana e diz que amar varia E amava lia Mas se casou com o juízo E foi morrer de cidade Em plena saudade grande diz que aprendeu com Maria Que amar lhe valia e o livraria da doce pena De estar preso aqui, andando pelo mercado Piscando pro vento, ao solo fincado, perdendo pro tempo Que esmaga a cria, que era a dona da alegria que os unia A tão pouco tempo Mas ninguém reparou que ele estava ali Ela estava ali mas ninguém reparou O tempo passou, e ele ainda estava ali Mas ninguém reparou que tava tudo aí Seu corpo assou, seu tempo passou E ele ainda estava ali, e eu profetizei Tomara que talvez