Deixei a fazenda lá no pantanal Fui pra capital num encontro de elite Na hora marcada entrei no restaurante De gente importante e poder sem limite Já veio o garçom com champanhe na taça Mas pedi cachaça pra abrir o apetite Então o gerente se aproximou E me perguntou se eu tinha convite Eu respirei fundo pra me controlar E peguei a falar qual a minha intenção Eu vim pra cidade pra fazer negócio Mas não tenho sócio, amigo ou patrão Cumpri meu dever e já estou indo embora Só preciso agora de uma refeição Por esse motivo é que eu entrei aqui Mas não entendi sua indignação Por favor compreenda me disse o gerente É que esse ambiente já está reservado Vou servir o almoço pro governador Acho que o senhor não foi convidado Enfeitei de flores os vasos do chão Pro nosso salão ficar bem perfumado Senti que das botas que está calçando Está exalando um cheiro de gado A porta se abriu depois que ele acabou Por ela entrou quem estava aguardando Vinha o governante bem acompanhado Sentou-se a meu lado me apresentando Falou aos presentes em tom altaneiro Este é o boiadeiro que eu vinha falando Grande pecuarista herói sem nobreza Que gera a riqueza que estamos exportando Eu lhe convidei pra ser homenageado Em nome do Estado eu lhe agradeço No meu gabinete de luxo e beleza Embaixo da mesa eu guardo com apreço As botas surradas do meu pai amado Que lembra um passado que eu não esqueço Pra sentir na sala o cheiro de estrume Porque esse perfume pra mim não tem preço