Se eu soubesse, escreveria Palavras sem corpo Palavras sem cara, palavras sem cor Palavras sem peso, altura ou idade Palavras sem forma, tamanho ou valor Palavras sem gênero, palavras sem número Palavras sem credo ou qualquer submissão Palavras que nunca roubassem a cena Plantando mentira, vendendo ilusão Palavras sem lado, palavras sem time Sem muro, sem cerca ou separação Palavras que não precisassem ser lidas Numa prece ou nas frases de uma oração Se eu pudesse, cantaria Palavras sem culpa Palavras sem mágoa, palavras sem dor Palavras sem cela, corrente ou grade Palavras sem máscara, brilho ou pudor Palavras sem título, palavras sem mérito Sem hierarquia ou qualquer posição Palavras que sempre abrissem o jogo Nos livros de história, nas leis da nação Palavras sem margem, palavras sem ordem Sem hino, sem grito ou bandeira na mão Palavras que não precisassem ser ditas Parabéns, obrigado, até logo, perdão Letras sem som, rimas sem voz Na melodia mais simples que já se ouviu Pulsam no ar, vibram em nós Num mundo livre agora soam assim Palavras sem sede, palavras sem fome Palavras que não trazem medo e tensão Palavras que nunca atiraram no escuro Deixadas num canto, engolidas no chão Que vêm, mas não ferem que vão, mas não matam Na infância mais pura ou num palavrão Palavras que sempre perderam a linha Na poesia ou nos versos de uma canção Letras sem som, rimas sem voz Sempre ecoando na eternidade do amor Pulsam no ar, vibram em nós Se revelando na paz que somos sem fim Letras sem som, rimas sem voz Sempre ecoando na eternidade do amor Pulsam no ar, vibram em nós Se revelando na paz que somos sem fim