Foi hoje, agora há pouco Eu fiz um mate assim, tão bem feitinho Cevado com tal jeito e tal carinho Que me lembrei assim, de relancina Do primeiro mate que tomei Foi minha mãe que fez E era tão doce, doce como ela era e ainda é Eu era piá Um naquinho de gente E, pra ganhar um mate, eu esperava Até que ele não fosse mais tão forte e nem tão quente No beiral da porta da cozinha Que era de chão batido Varridinha com vassoura de guanxuma Eu me sentava e pedia manhoso Mãe, me dá um mate? E esperava, até que ela achasse Que já dava pra dar um mate para o seu guri Quantas lições de vida eu aprendi No mate doce que minha mãe fez! Aprendi obediência Aprendi a ter paciência para esperar a minha vez Segura com as duas mãos! Não derrama! Não te queima! Não vá me mexer na bomba! Eram ordens! Mas tão brandas, dadas com tanta ternura Da boca da minha mãe eu nunca ouvi um nome feio Nunca uma palavra dura Guebuxa! Quanta saudade! Minha infância, a mocidade E aquele mate inocente Que sem ser forte, nem quente Era tudo o que eu queria Como eu ficava radiante e me sentia importante Com aquela cuia de mate que a minha mãe me estendia E foram mates de leite, às vezes mates de mel Com açúcar esfregado, com canela Que a minha mãe fazia, diferente um do outro cada dia Minha mãe agora está velhinha E espera horas, dias sentadinha Ou suspirando debruçada na janela Que esse seu filho, gaudério, desgarrado Um dia desses sente do seu lado E tire um tempo pra matear com ela Eu vou sim, mãezinha, te prometo Também estou cansado de matear sozinho! E quando eu bolear a perna no teu rancho Deixa que eu ceve um mate para nós Um mate doce Que eu vou adoçar pra ti com meu carinho