A um brete o presídio é igual Costeando tourada alçada Cada osco, aspa virada Com fama no pajonal Na grade, aquele zum-zum Índio, branco, ruivo e algum Mais retinto que poliango Presos por simples fandango Culpado mesmo, nenhum Na sua lógica bronca Esta prisão já demora Porque há tantos lá por fora Bons tentos da mesma lonca Por que, metidos no ajojo Se os outros bebem o apojo Da liberdade sem freio Aqui, em ronda e pastoreio Até entristece e dá nojo O que matou peito a peito Nenhum remorso denigre Foi peleando, como um tigre Se vendo daquele jeito E aquele ali, contrafeito Mulato, a barba caprina No próprio olhar se condena Não ví que ele cumpre a pena Pela degola da China E o quietarrão? Sempre calado Carão fechado de cumba Mais sério que catatumba É o preso que menos fala Maneado nos pensamentos Lembra a madrugada fria Em que, na cama de tentos Com quatro gritos por prosa Ao gauchão que o traía E a dona que ele queria Matou com raiva gostosa E os três ladrões de cavalo Que estampas de gauchões Indo em curtos intervalos Do extremo sul às missões Floriando os pingos alheios Das tropilhas das estâncias Têm no peito, em corcoveios As ganas de um coxilhão De ir esbanjando as ganâncias Comemorando as distâncias Com tragos de um borrachão Mas este, ladrão de vaca É mais humilde que os outros Com fama em lombo de potros E mais cantor que baitaca Um dia, caiu no roubo Por proeza de moço bobo Pelo prazer da aventura Cada campereada rara Peleando com a Lua clara Laçando com a noite escura Absolvido, este, agora Que o promotor apelou Supõe que já colocou Um pé do lado de fora E o seu planito compôs Já se imagina, contente Suando, livre, ao Sol quente Numa lavoura de arroz E este aqui? Olhos de cobras, papo de sapo Batendo com os trinta anos se vendo E mais uns meses de sobra Campeão dos mais altos pontos De um rancor frio, e desalmado A um pai de família honrado Matou, no mais, por dez contos Um leão com cara de fome Com a bombacha no espinhaço Com fama de bom no laço E uns, diz, ques de lobisomem Entrando os campos por mel De noite, em desassossegos Coça as pulgas nos pelegos De ovelhas do coronel E o que fez pango em velório De canha, como uma brasa E o outro, mais grave assunto Feriu o dono da casa Matou de novo o defunto Pois declarou ao perito Que era um doutor calabrês Se vivo fosse o defunto Lá se ia de pé junto Porque morria outra vez E aquele alto, gadelhudo Com perfil de gavião mouro Foi sempre tido por touro Por vaus, por bolicho ou cancha Num bochincho dos coiceiros Lanhou chinas e povoeiros Com a adaga dada de prancha E o criolito ligeiro Mesquinho de um safanão Bueno pra encher chimarrão Ou recolher no potreiro No balcão do bolicheiro Se meteu numa enrascada Numa noite sonhadora Com senha a registradora Dez latas de goiabada Aguardando a apelação Esse ali sempre risão Seu júri foi de alegria Todo mundo meio ria Só o Meritíssimo não E o defensor, buenachão Com um bom timbre de garganta Provou que o crime era nada Tosou toda a matungada Que havia numa bailanta Dá uma piedade tremenda Olhar tanto índio em castigo Cavacos de cerne antigo Que escorou em paz e contenda Da Pátria, a posse tranqüila Por algo se vieram vindo De tombo em tombo caindo Até o presídio da vila