Quando ela saiu de casa No meio da noite com o orgulho ferido Pensou por um instante em olhar pra trás Mas seu impulso foi contido Ao lembrar da sua infância Do modo como sempre foi tratada Cabeça erguida, seguiu em frente Valente e despreparada E uma lágrima correu e se perdeu em seu rosto Parte dela alí morreu... lembrança, saudades, desgosto... Mas de que valia a vida com repressão e preconceito Ninguém nunca lhe deu a mão. Ninguém nunca entendeu seu jeito Quando o Sol nasceu de novo, enquanto o povo abria os olhos de manhã Ela desceu daquele ônibus e olhou o mundo estranho ao seu redor Mas a mágoa era maior que o medo E sempre é cedo pra recomeçar Então a vida é pra valer Por volta das dez e meia sentiram sua falta Estranharam o silêncio Seu pai abriu a porta e viu em seu lugar Três ou quatro travesseiros E uma lágrima correu e se perdeu em seu rosto Parte dele alí morreu... lembrança, saudades, desgosto... E de que vale a vida agora com remorso e solidão É difícil pensar no futuro com o passado na podridão O ser humano é complicado. É incapaz de aceitar as diferenças E descarrega os seus demônios até mesmo na própria família Mas o tempo é o melhor dos livros Com ele se aprende a lição das horas de amor Então a vida é pra valer