No recanto onde moro é uma linda passarela O carijó canta cedo, bem pertinho da janela Eu levanto quando bate o sininho da capela E lá vou eu pro roçado, tenho Deus de sentinela Tem dia que meu almoço é um pão com mortadela Mas lá no meu ranchinho, a mulher e os filhinhos Tem franguinho na panela Eu nasci num recanto feliz Bem distante da povoação Foi ali que eu vivi muitos anos Com papai, mamãe e os irmãos Nossa casa era uma casa grande Na encosta de um espigão Um cercado pra apartar bezerro E ao lado um grande mangueirão Hoje ali só existem três coisas Que o tempo ainda não deu fim A tapera velha desabada E a figueira acenando pra mim E por último marcou saudade De um tempo bom que já se foi Esquecido embaixo da figueira Nosso velho carro de boi Era 4: 30, passava um pouquinho E um fosco clarinho rasgava o varjão Era o trem noturno, que vinha apontando E logo parando na velha estação Meu corpo tremia, meus olhos molhados O meu pai do lado e a mala no chão Beijei o seu rosto e disse na hora O mundo lá fora me espera, paizão Eu nunca esqueci o que o velho falou O tempo passou e pra casa voltei Quem fica distante jamais se conforma Lá na plataforma meus pais avistei Desci comovido, abracei ele e ela E a mala amarela meu filho eu não vi Meu pai, acredite na fala de um homem Pra não passar fome a mala eu vendi Que pena, que pena, era minha lembrança Que eu trouxe de herança do seu avô Mas deixa pra lá, eu vou esquecer A herança é você e você já voltou