Nasci aqui À beira Sul, à beira nada Do alto desta colina, sonho a cidade Sou filho de uma luta abandonada Perdida no limbo entre a mentira e a verdade Nasci aqui, à beira-dor, à beira guerra Em dia de mágoa e solidão Descobri afinal não ser quem era Sou apenas um punhal em forma de coração Nasci aqui, à beira-mar, à beira míngua Do lado errado do medo Solta-se o beijo, solta-se a língua Sussurras-me ao ouvido, guardo o segredo Sou daqui, deste lugar desinquieto Feito à medida da minha exaltação Os torpes chamam-lhe gueto Eu chamo-lhe raiz, utopia, condição Yeah, oh oh ohh, oh Filho do gueto, oh oh, oh oh De que adianta chorar pelo amanhã Se o hoje ainda não sorriu para mim Vestir um futuro que não serve Despindo o outrora Trocado por marfim, eh eh eh No chão, no chão implora um pai que chora Filho chegou a hora Partiu e nem plantou Oh oh ah, não plantou Filho do gueto Filho do gueto! Filho do gueto Filho do gueto! Pelas veias cruzadas deste subúrbio De ramo vida e sanguíneas memórias Cirando por aí de distúrbio em distúrbio Em busca de grotescas e efémeras glórias Não tenho passado, presente, nem futuro Perco-me, mergulho na multidão Aplicam-me-se vícios que não auguro Resgatas-me, escapamos de mão na mão