O rio cresceu, tapando praias e barrancos Subindo ao tranco de quem vem buscar amor Engravidando águas de sanga na passagem Deixando imagem de cruel conquistador E vem lavando a grama verde do varzedo Vem afogando a floração da corticeira Esparramando solidão e muito medo Sufoca o manso barulhar das corredeiras Dentro de nós existem rios que fazem cheias E ao transbordarem, levam sonhos florescidos Que, como restos de naufrágios mal feridos Morrem afogados no sudário das areias Um dia cansa o rio selvagem que levamos E a alma inquieta se transmuda em águas mansas Levando em barcos de aguapés os sonhos mortos Que hão de algum dia rebrotar em esperanças