Imagina No fundo do fundo de um monte de soja De mil toneladas no fundo do fundo Um singelo segredo, uma simples miragem O porão do navio, outra parte do mundo Imagina Uma coisa com peso de pluma Um canto perdido dum trem de minério Um acaso, uma história, lógica alguma Um brinquedo quebrado Um pequeno mistério Imagina Que entre os milhões de barris de petróleo Estocados no Iraque, Istambul ou Vitória Esteja lá invisível, miúda, esquecida Uma mínima imagem de nossa senhora Imagina Que agora agorinha lá em Hong Kong Tem um estivador que num clique, um rompante E sem ter a menor explicação do motivo Mete a mão numa lata de fertilizante Imagina Nigéria, Dubai ou Osaka O obreiro recolhe na mão a santinha Que estranha energia essa imagem carrega Amuleto, chaveiro, lembrança, mandinga Imagina Você tá vendo televisão Navegando invisível pela economia Pro jornal a notícia tá ali numa foto Essa mínima imagem da ave Maria Imagina Você tá de frente pra a imagem E se entrega pra ela com adoração De repente a figura sagrada te chama A commodity é a santa, o sagrado é o feijão Não se incommodity (Varejo, granel) Não me incommodity (O inferno e o céu) Não se incommodity (Desejo, pastel) Não me incommodity (Garganta e pincel) Não se incommodity (Passagem e hotel) Não me incommodity (Babuska e babel) Não se incommodity (Muito bem, very well) Não me incommodity (Vou passar o chapéu)