Maria sai de casa todo dia para o trabalho, deixa a janta pronta para o seu marido Carlos Os dois trabalham na mesma empresa, Carlos de Mecânico, Maria de Costureira Eles saem na mesma hora, pegam o busão lotado, a linha sempre demora, desde cedo acordados Mas sabe a diferença de Maria e Carlos? Maria de pé até tarde, enquanto ele já está deitado Fazendo a comida, para o outro dia, bota os filhos pradormi, isso é uma agonia Acorda cedo, limpa casa, no trabalho, a labuta, cuida dos filhos e Maria, no cotidiano luta Maria não tem vida, não pode curtir, Carlos todo dia, no bar do seu Assis Chega em casa, tombado, de álcool, embriagado, bate nos filhos e Maria com rosto espancado São tantas Marias que já perdi a conta, vivendo desse jeito, perdendo as esperanças Apanham todo dia, pelas mãos de Carlos, que desde de cedo aprendeu o errado Que servimos para servir, somos pedaços de carne, parimos filhos, nossa opinião não vale Somos negras cavalas? Da cor do pecado? Pode achar! Mas sou a neta das negras que não conseguiram matar!