Venham leis e homens de balanças Mandamentos d'aquém e d'além mundo Venham ordens, decretos e vinganças Desça em nós o juízo até ao fundo Nos cruzamentos todos da cidade A luz vermelha brilhe inquisidora Risquem no chão os dentes da vaidade E mandem que os lavemos a vassoura A quantas mãos existam peçam dedos Para sujar nas fichas dos arquivos Não respeitem mistérios nem segredos Que é natural os homens serem esquivos Ponham livros de ponto em toda a parte Relógios a marcar a hora exacta Não aceitem nem queiram outra arte Que a prosa de registo, o verso acta Mas quando nos julgarem bem seguros Cercados de bastões e fortalezas Hão-de ruir em estrondo os altos muros E chegará o dia das surpresas