Um dia chegou de longe
Nunca se soube de donde
Chapéu quebrado na testa
E um lenço preto ao pescoço
Negro como pensamento
De uma China despeitada
E afinal ficou de peão
Da estância de Seu Quirino
Primeiro que levantava
Ao canto do quero-quero
Pra impessar a lida do dia

E quando lhe davam um alce
Passava grozeando os cascos
De um rozilito cinzento
Pingo que era um pensamento
Segundo seu comentário
Ninguém sabia seu nome
Talvez, nem mesmo o patrão
Mas quando de noitezita
A indiada puxava um banco
Em derredor do fogão
Lá sobe um canto solito
Um pinho entrava de manso
Cantando coisas bonitas
Que faz a gente pensar
E finalmente a peonada
Se acostumou com o estranho
Pra todo mundo da estância
Era o paisano
No mas!

Talvez por seu mutismo
Despertava nas mulheres
Caprichos de coração
Porém muito maneiroso
Fazia sempre segredo
Quando por necessidade
Precisava do carinho
De alguma China qualquer
Depois, voltava solito
Ao trote do seu rosilho
Levando para os pelegos
Mais uma história de amor

E finalmente aos pouquitos
Por ser pronto servidor
Foi conquistando a amizade
Desde a peonada ao patrão
E foi num final de tarde
Que alguém entrou no galpão
E disse pros que mateavam
Que uma patrulha do povo
Buscava um sorro qualquer
O que se ouviu de repente
Foi uma voz que de um canto
Falou por primeira vez
Dizendo apenas
Tô aqui!

Foi como se lá do céu
Um trovão se desgrudasse
Preludiando temporal
Logo o galpão foi sitiado
Pela patrulha do povo
E até parece mentira
Que um indiozito tão quieto
Pudesse ser tão ligeiro
Na hora do ferro branco
Quando cessou o reboliço
Os gritos do entreveiro
Jaziam lá no terreiro
Três índios ensangüentados
E a longe, na polvadeira
O rosilito cinzento
De cascos bem aparados
Debandava proutros nortes
Talvez para a banda Oriental
Levava apenas no lombo
Um guapo e quieto paisano
Que um dia chegou de longe
Nunca se soube de donde
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