Já não construo disfarces ou personagens no espelho Pro roteiro adaptado da comédia dos meus dias Tenho saido de casa vestido só de verdades Talvez por certa arrogância e a recusa de esconder-me Só que isso de jogar-se de penhascos em palavras Inunda todas as cenas de absolutas sentenças E em meu ar de indiferença de alguém nunca indiferente Vivo em meu laboratório dos afetos controlados E quando posso navego pra ilha da minha verdade Que mesmo tornada instante sustenta o fio dos meus dias Onde ando em cordas bambas sobre a rede dos amores E em arenas de leões que se acalmam com cantigas E às vezes cavo poemas no solo de meus segredos Que testemunham honestos meus persistentes ensaios E querem que sejas cúmplice do meu mapa de viagens Já que a horda dos poetas é a legião das solidões E caso estejas atento prum certo tom angustiado É provável que um dos homens que habitem em teu peito Reconheça nesses versos que nasceram por vontade O fel das próprias palavras e o doce ainda guardado.