Caju! Caju! Querida Caju Bom dia Me escrevo essa carta em primeira pessoa Pelo exercício de me ver assim, livre Nessa estrada longa, a um destino que eu ainda não sei como será Mas que acredito veementemente Porque agora eu aprendi a andar depois de ficar de pé Escrevo isso e me lembro daquela cena do meu filme preferido, Kill Bill Quando Beatrix Kiddo fica horas depois do coma Tentando mexer os dedos, deitada na parte de trás do carro Hoje eu aprendi a correr E é por isso que eu acordei e quis me colocar num ônibus com direção ao futuro E eu pretendo passar o dia me observando, atenta E peço, no fundo do pensamento Tomara que hoje faça um dia de Sol E, se houver neblina, que eu seja um Sol interno De olhos abertos, eu observo o movimento na estrada E penso na minha trajetória até aqui Nas inúmeras coisas que meus olhos já viram E eu me percebo sendo uma grande colecionadora de boas memórias É claro, dentro dessas memórias, também existem os equívocos Os deslizes, alguns tombos, precipícios Mas é impressionante que mesmo com esses declínios Eu ainda lembro como voar Agora, com os fones de ouvidos bem ajustados Eu sei que eu quero um dia dançante depois de passar por esse estado Onde o corpo fica amuado, onde naturalmente eu fico de calundu E me esquivo de qualquer coisa que me atravesse Pela escolha de viver o ranço, chega Eu realmente prometi ser o Sol hoje Desde o momento que entrei nesse ônibus Eu vejo o trem passando na janela E penso que às vezes é preciso alguém, um movimento espelhado ao seu Que lhe faça encontrar um outro sentido pros domingos Quando o relógio marca às treze Parece que o dia será um grande enguiço, um embrulho Um negócio efêmero Se eu pudesse, hoje eu faria um dia eterno Um mastro noturno, uma fogueira que não se abala pela água Um eclipse de estrelas Se eu pudesse, o dia de hoje seria disruptivo a tudo que é lógico Sorrio ao me imaginar assim, com meu possante na estrada É preciso ser o retrogosto da boca E ser eterno em alguma memória Seu nome não é Caju à toa