O sexto fio do alambrado bem antes de mim nasceu Segue na vida esticado Vai durar mais do que eu O sexto fio do alambrado Passou sua vida no campo Conheceu léguas parado Prendeu sua alma num grampo Sentiu a dor da mordaça Nos golpes do esticador Abraçou moirões de cerno Pelas mãos do alambrador Imponente quando um touro Vem de encontro e dá de volta Manso abanando as clinas Que de algum potro se solta Liso pro pouso emplumado Do passaredo cantor Que enfeita a primavera Nas manhãs do corredor Liso pro pouso emplumado Nas manhãs do corredor O sexto fio do alambrado Nos diz mesmo sem falar Que embora seja de aço Um dia vai rebentar O sexto fio do alambrado Um dia vai rebentar Sofre a intempérie do tempo e alguns golpes da lida Tal qual sentimos na alma os tironaços da vida Sofreu soalheiras nas tardes Destes verões da campanha Em noites negras sem Lua Abrigou teias de aranha O sexto fio do alambrado Bem antes de mim nasceu Segue na vida esticado Vai durar mais do que eu Quisera eu ser como o arame Chorar apenas sereno Não trazer mágoas por dentro Ter a alma de aço bueno Compor junto aos outros fios Um lamento que se afina Ao sopro do minuano Sonidos de corda prima Compor junto aos outros fios Sonidos de corda prima O sexto fio do alambrado Sofre só pela razão De que o moirão não lhe abraça Mas ele abraça o moirão O moirão não lhe abraça Mas ele abraça o moirão O sexto fio do alambrado sofre só pela razão De que o moirão não lhe abraça Mas ele abraça o moirão