V A morte é dura, Porém longe da pátria é dupla a morte. Desgraçado do mísero, que expira Longe dos seus, que molha a língua, seca Pelo fogo da febre, em caldo estranho; Que vigílias de amor não tem consigo, Nem palavras amigas que lhe adocem O tédio dos remédios, nem um seio, Um seio palpitante de cuidados Onde descanse a lânguida cabeça! Feliz, feliz aquele, a quem não cercam Nesse momento acerbo indiferentes Olhos sem pranto; que na mão gelada Sente a macia destra d'amizade Num aperto de dor prender-lhe a vida! Feliz o que no arfar da ânsia extrema De desvelada irmã piedoso lenço, Úmido de saudades vem limpar-lhe As frias bagas dos finais suores! Feliz o que repete a extrema prece, Ensinada por ela, e beijar pode O lenho do Senhor nas mãos maternas! Desgraçado de mim!... Talvez bem cedo Longe de mãe, de irmãos, longe da pátria Tenha de me finar... Ramo perdido Do tronco que o gerou, e arremessado Por mão de Gênio mau à plaga alheia, Mirrarei esquecido! Os céus o querem, Os Céus são imutáveis: aos decretos Do Senhor curvarei a fronte humilde, Como cristão que sou. Eternidade, Recebe-me a teu bordo!... Adeus, ó mundo!