Mundo doidão irmão, nem entendi nada Balearam um menor, aqui na minha quebrada Quatorze ano e nada de droga em cima Mas os canas forjaram, duas peças e cocaína O ódio aqui mina, como ouro e seu valor Sem valor, a vida anda só pra quem matou Doutor, justiça tarda falha, balança ainda peso Para o lado mais fraco, isso é justo meu senhor? Pergunta assim me faço, puxo mais um do meu maço Lembro do meu braço, dando os primeiros passos Sem defesa e sem reação, os cuzão com munição Sangue no chão, todos em luto no morrão Obra do capeta, tiro de meia dois Atravessa quantos muros, morre só vê depois Da voz a os que não cala, nessa chuva de bala Somos luto hoje e depois, a cor já fala Não existe parda, talvez papel Mas ponho o curriculum, saiu de casa limite é o céu Sem credito no cel, mas tenho na palavra Cria do Centro, setor na Lapa Quintal de casa, de mel embrasa Pra esquecer, pra recordar Sobreviver, talvez sonhar Vim pra tentar, correr atrás, não vou panguar, filho É dedo no gatilho Bomba relógio, um curto pavio Explode a barca, tá pronto pro conflito Eu ouço mais tiros, ouço mais gritos O tempo que passa, não cura magoa Pra amenizar, nós faz fumaça Pra eternizar, o som na caixa Que toca no coração, a dor sufoca Pra não fazer merda na rima, nós foca Papel, caneta, lixeira lota Mente transborda, pensar nas notas Pensar nas xotas, nessa revolta Que a favela anda vivendo Ainda tô aprendendo, uns ganhando Outros perdendo tempo É sem lamento, deu mole se foi como o vento Vim pra marcar momento Liberdade, paz, e o beat batendo E eu vou levando, penso nos que foram E nos que tão voltando Rezando pros que vem, e os que tão em outro plano Que olhem por mim e por todos os meus manos