Te escrevo, campo, num verso Nas folhas brancas das garças Com teus silêncios brotando No verde que te disfarça No canto de um João Barreiro Que rima com a sanga rasa Bicando em suas barrancas Mais barro pra sua casa Te escrevo, campo, nas noites Que acendo estrelas em ti Em luas claras prateando Caminhos que me perdi Na linha dos alambrados Deixei escrito um versito Com um pelincho se embalando Topando o vento, solito Te escrevo, campo, na marca Dos cascos de um pingo bueno Que se amansam pra um corte Pelas manhãs de sereno No laço, depois da lida Voltando em braças, de arrasto Riscando o chão do rodeio Dobrando as palhas do pasto Te escrevo, campo, na alma Com pensamentos de terra Em tudo que, em ti, começa Por tudo que, em ti, se encerra Com palavras de querência Te quero um tanto e, assim Eu faço parte do campo E ele faz parte de mim Te escrevo, campo dobrado Com a mansidão dos cavalos Por madrugadas quebradas No canto duro dos galos Te canto em rimas claras Luzindo noites escuras E faço rubros poemas Com tuas pitangas maduras Te escrevo, campo, num verso Dou-te o céu por testemunho No livro das tuas coxilhas Fiz meus primeiros rascunhos Por tudo que me ensinaste Renasço a cada manhã Qual o Sol que espicha a sombra Da calma de um tarumã