Eu trago a bombacha puída De tempos e espinhos E, as botas, marcadas pra sempre Do suor dos cavalos No meu aba larga há poeira De antigos caminhos E o meu tirador conta os riscos De golpes e de pealos Eu tenho as mãos calejadas De rédeas e cernos E as pernas cambotas Moldadas ao corpo do basto A pele curtida das tardes De guapos invernos E, os olhos, de um brilho tamanho Embora já gasto Eu trago na alma uma gana Que topa de fronte E, no coração, as saudades Que sempre guardei No meu pensamento Miradas de mil horizontes Lembranças de um tempo passado Que nunca passei Eu tenho na voz um aboio De largas tropeadas Que ouço de longe Um chamado de venha! Eu provo hoje o gosto De um mate com água jujada Benzendo um assado Que pinga na brasa da lenha Eu trago da terra as lições Que ninguém mais ensina Do vento, conheço os segredos Que não vai mais contar No fogo ainda queimo verdades Por quem não opina Que nem o aguaceiro mais forte Consegue apagar Por isso que vivo na alma E no corpo me vejo Pilchado de campo e genuíno Qual nobre elemento Aguço os sentidos que tenho Tal qual meu desejo Pois sei da razão que me dá E me tira o sustento