O vento sul já soprou, o vento norte chegou O planeta girou e a translação se completou Mais um ano se passou, nada se modificou É, infelizmente só a miséria que aumentou Eu continuo na busca do verdadeiro amor Meu juiz tá no céu Qual será meu papel Nesse mundo imundo? Sei lá, será que é o Rap? Será que é 157? Montar uma quadrilha Entrar pra guerrilha Ou talvez seguir a trilha Do Nei, que cumpre pena e tira fina Eu continuo em Hortolândia aqui no lado de Campinas Me lembro dele em nosso tempo de infância Ei sangue bom, puxa a cadeira e fica à pampa Enquanto eu te conto nosso tempo de criança Eu era pura esperança e ainda sou Fruto do amor de meus pais Vinte e seis anos atrás Fui concebido Um moleque extrovertido Mano, é Aos sete anos pouca coisa eu sabia Mas eu me lembro de tudo que fazia Então, jogava bola no campão, Nadava no tubão, rodava meu pião, Brincava de boquinha, Batia figurinha, Empinava pipa debaixo do sol Quebrava lâmpada e fazia cerol Corria descalço pelas ruas do bairro Que na época era terra Não tinha luz elétrica Nem água encanada, Mas que nada! Era feliz e não sabia O amor pela vida me movia Dia a dia, de manhã meu pai saía pra trampar Quase nada que eu pedia ele podia comprar Eu demorei, eu sei, mas hoje posso entender Que direito de pobre nesse mundo é sofrer E amar a Deus E que meu pai já nasceu Entre a cruz e a espada Só quarta série primária Era só um coitado, mais um pobre operário Uma fração do universo proletário Que por amor à família se sacrifica Infelizmente é a isso que o pobre é reduzido A uma massa de excluídos pelo capitalismo Se o amor tiver ouvidos, Eu peço que me escute E pare com a guerra entre as torcidas Por amor a seu clube Eu sei que é difícil Mas não desisto Vou continuar minha busca do verdadeiro amor Pois hoje em dia eu sou como um pintor Que pinta um quadro de horror E observa a passagem da caravana do amor O verdadeiro amor, Onde eu encontro a cem Ou será de mãe pra filho? Talvez no gatilho Que gira o tambor Por amor à família No dia a dia Vai buscar seu sustento Desse modo sangrento Por quanto tempo? Eu já não aguento mais Essas guerras sociais Essa disputa de classe Sabedoria é um lírio branco que nasce Em meio aos espinhos Difícil de alcançar, Mas um dia eu chego lá Quem sabe com ela Eu encontre uma forma De acabar com a favela, A miséria, a guerra Estabelecer a paz Entre os homens da Terra Dizem que o amor um dia vencerá a guerra Mas como, se o amor também fabrica a guerra? Desde os tempos da Grécia Antiga Quantos homens Lampião não matou Por amor a Maria Bonita? E aí, quantas vezes você não tretou, Por amor à sua mina? Me diga! O amor à propriedade é o mais covarde É desde o berço da humanidade Há milhares de anos Antes do Império Romano É mais antigo que o sal É mais velho que o clero No sistema feudal Um dia com certeza O bem vence o mal Mas eu digo com franqueza Que o meu povo sofre mais Pós revolução burguesa A vida é uma árvore, o amor é o tronco Quem se agarra ao tronco, com certeza não cai Mas seu peso pro galho pode até ser demais Valeu meu truta sangue bom Pelo dom de me ouvir Mas eu não paro por aí Pois eu sou Como um pintor Que pinta um quadro de horror E observa a passagem Da caravana do amor Eu paro e penso, e quando penso lamento Me lembro da filha de um sargento Que troca o amor da família Pelo amor às divisas Expulsou sua filha Que acabou de engravidar É coisa de militar Disseminar o horror Ele se esquece Que um dia também já amou... Olha um veículo parando na esquina Tá vendo aquela mina? Saia vermelha, blusa preta Ela diz que é dez a chupeta Quarenta a completa Talvez, nem passa dos dezesseis, A filha do militar que eu te falei Está vendendo o que seu pai lhe negou Sabe o quê, mano? Só o amor Entrega seu corpo A qualquer louco Em troca de um troco Não tem nada pra vender, Nada pra oferecer, A não ser seu trabalho É a mesma coisa que acontece ao operário Que aluga a força de seu corpo Por amor ao seu salário Nenhum dos dois é patrão Não tem acesso aos meios de produção Então eu chego à conclusão Que existem duas formas de prostituição Uma oficial e a outra não Então, não é discurso irmão, Mas tem o dom de me ouvir Pois muitas coisas eu vi No litoral ou no interior do país Mas aí, Sempre encontrei o amor De braço dado com a dor Mas continuo na busca Do verdadeiro amor Foi procurando num sábado, Observando um sábio aprendi com seu choro Mas nada aprendi ouvindo a música de um tolo Sabedoria vale muito mais que ouro Nunca deseje lucro, nunca deseje tesouro Sabedoria é uma graça E se um dia alcançá-la Seu lucro é bem maior Que o da finíssima prata Ame a sabedoria E faça dela seu guia A vida passa Só ela transpassa O tempo Ninguém segura o tempo Ninguém segura o vento Nem o que vai ao sul, nem o que vai ao norte Nesse intervalo gente nasce e gente morre Criança, vende doce no sinal Aposentado, morre sem vaga no hospital Falta de amor, de vontade, De sensibilidade Como se fosse um pintor Que pinta um quadro de horror Eu observo a passagem Da caravana do amor