Depois que a noite cair e a treva dominar O cagueta dormir e o sentinela passar Eu vou de novo fingir quando silêncio reinar Aí vou sorrir quando o candeeiro apagar Trincar por cima do pano para a corrente quebrar Desmuquifar o aço faca de cortar jugular Arrebentar os grilhão pro meu sangue circular Chamar os nego irmão forte pra capoeirar Vamo rezar um duá depois do salatul ichá Guardar palavra de alalh amarrar no patuá Uma estrela e o crescente para nos guiar Vamos sentido oriente que eu conheço um lugar Aonde não tem sinhô aonde não tem sinhá E o nego pode comê o que o nego plantar Onde morrer é melhor viver pra paz é lutar 'Conteça o que acontecer nóis tamo indo pa lá Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que os inmigos contra nós sejam milhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Enfrento os borba gato e os raposo tavares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Vamo render o capitão quebrar a louça do barão Sacudir o casarão despojar os dobrão Levar as filhas do sinhô que vai morrer do coração Tocar fogo na capela e no barracão Vamo de a pé embrenhar no meio da escuridão E quando mata adentrar onde num entra alazão Cor do nego vai camuflar e allah vai dar proteção Mãe natureza ajudará abrindo ventre e coração Subir que nem sucupira e confundir direção Sem rastro os astros testemunharão Mal da mata vai assolar e causar desolação Inimigos no caminho todos sucumbirão Vamo cantá uma canção hino de libertação Antiga cantiga mandinga mantida recordação A fé tá no tessubá promessa tá no alcorão Faz parte da nossa crença lutar contra a escravidão Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que os inmigos contra nós sejam milhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Enfrento os borba gato e os raposo tavares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares Mesmo que eu tenha que cortar serras e ares E que meu sangue regue o chão solo de nossos lares Pois todos quilombolas são nossos familiares Indios e foras da lei renegados e populares Mal quistos e mal vistos vindos de vários lugares Você não tá sozinho por que nós somos seus pares No levante contra bandeirantes militares E se lealdade ao justo rei jurares E com as proprias mãos paliçadas cavares Se por amor a justiça a causa amares E por causa da justiça ao amor armares Quando rufares tambor quando tambor rufares Que me sangrem os calcanhares contra nós sejam milhares É temop de defender nossas raizes milenares Se esperamos vacilamos vamos todos pra palmares Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Mesmo que os inmigos contra nós sejam milhares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares Enfrento os borba gato e os raposo tavares Eu vou pra palmares eu vou pra palmares