Carrego a palavra Patuá Como quem anseia sorte Coloco ela à frente pra ter rumo Norte A mesma vira escudo, adaga Revide, morada É tipo ter um corpo feito de água salgada Se equilibrar nas próprias ondas Que teme tudo e não teme nada É aprender com o mar a retroceder e atacar Relembrar e saudar quem veio antes Angela, Conceição, Carolina, Maria e Clementina Sementes, buquês, Espertirina Compor poesia combustão Pra dar base aos pés e força nas mãos Decorar dialetos em yorubá Cantar cantigas para Odoyá E se preciso for Fazer poemas, mandingas Pra se auto resguardar Escrever para garantir o pão de cada dia Pedir benção pra quem já garantiu o pão Rezar pela cria que tá na barriga São simples os caminhos Da palavra proteção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Planto sementes de fala pra crescer raiz palavra Reconheci essa força que me sustenta de forma sagrada Fiz da escrita minha espada mais afiada Mastiguei o verbo e te entreguei Como oferenda numa bandeja de prata Navego verso livre na folha Quando o pensamento algema Deixo a correnteza fluir E transbordo poema Me deram a caneta e eu escrevi Com o microfone não foi diferente Hoje registro a história que vivo aqui Pra evocar a memória de meus antecedentes Ouvi o chamado dos ventos Ouvi o chamado dos ventos Guardei um trovão no peito como talismã E escrevi meus próprios enredos Sob as bênçãos de minha mãe Iansã Girassóis quando inicio poema A sombra não me cabe Escrevo pra pincelar minha alma com outro tema Já escrevi sobre buraco e tecidos da vida O livro que me livra Espada de São Jorge na entrada é mandinga Hoje brota e diz Que é poesia no toco pra encher o oco A palavra me transborda a boca e escorre Até os meus pés e enlaça tudo o que sou Das águas do meu Ori à terra do meu sol Ora Yê Yé Ô no papel O que seriam das minhas mãos sem o mergulho da caneta? Para as que passaram e para as que virão Escrevo para estalos de espetáculos que fora outrora silenciados Me fiz poeta pra dar um bote nesse mundo Agora articulada e dona das minhas próprias palavras Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Chama, chama, chama, chama, chama Cheguei! Prazer, escritora Autodidata, geneticamente avançada Vigiando e sendo guardada Leoa da selva jamais enjaulada Na contra mão das linguagem Eu tô me lixando se os boy num entendeu Criptogragíria Não codificou? Esse é o mistério da quebra Moscou, o cabelo avuou Cês me limita em letramento Onde a escola é treinamento De quem aguenta por mais tempo O não pertencimento Quando falar não foi uma opção Escrever foi salvação A palavra é proteção da nossa história E reconhecimento, antes não tinha autoestima Hoje folgada, vivona e viveno Bem colocada, armada de informação Cada pedaço meu é letra de funk e inspiração Palavra é palavra, memo no sentido amplo Não só conto, rima, verso ou prosa Proteção como palavra É pedir bênção pra sua vó Salve, dona Rosa! (Salve!) Filha da cachoeira Cria da cidade de concreto Falo alto, falo fino, falo mesmo Quando poemo, sinto Costurar palavras É arte de peito exposto Pulsando o eco da gente O oco do meu sexo Não define o eu pessoa Silêncio não é palavra feminina A voz tem força Que a boca desconhece Pensamentos versam e guiam o caminhar Poesia oração É alimento e armadura As letras que me vestem Rabiscam a fé que me ergue Mulher é bicho-gente Que sangra e que sonha Eu lírica, sou grande Minhas rimas são refúgio Dever me chama Tudo em chamas, nós é salvação Chama! Somos coragem que inflama Língua Franca, palavra é proteção e manta Poesia que eleva, sou flor que liberta Me visto de amor, enfrento mundo Causo mudança de hábito Bem Lauryn Hill, na caneta ganho o mundo Minha fala é tática que muda estatísticas Que nos fazem vítimas Tô tocando mais corações que cardiologista Minha fala é legítima Visto preto por dentro e por fora, bora Serena na quadra, marcando pontos Ritmo e poesia conto minha história Missão de curar toda vez que canto (Chama!) Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção Revide proteção Escrita viva é munição Mulher, palavra pro mundo É quem dá direção É quem dá direção É quem dá direção É quem dá direção É quem dá direção