Vai o barco de farinha cruzando o velho Uruguai Vaqueano dessas cruzadas vem na popa um índio moço manejando o varejão Vem atento e vem pensando: Vou deixar do contrabando, não é vida pra um cristão! Hoje eu vim porque o menino deu sumiço na chupeta E aquele piá trombeta saiu louco de chorão Sorri o moço da popa porque no bolso da roupa trás o bico pro piá Ouve um tiro de repente vindo da banda de lá Foi um tiro de sinal, já no mais o tiroteio se acendeu no macegal Pipocando seco e feio como entrechoques de guampas No entrevero do rodeio no dia em que se dá sal Mala suerte! O barco vinha chegando e a carga do contrabando Com mais dez braças de rio, ia subir a picada Da picada pra carreta e, daí, pro caminhão Houve um grito de: Ala fresca, o Nico se lastimô! Mas ninguém botou tenência no sentido deste grito Porque a coisa vinha preta sob o tendel de balaços Que a guarda allena estendeu Cada bala que cruzava debochava de assobio Quando o barco deu no porto do lado de lá do rio O pessoal ganhou o mato, na picada se sumiu O barco ficou sozinho na madrugada e no rio Digo mal ficou o Nico sobre um saco de farinha Que um balaço espedaçou Tinha um lenço maragato na brancura da farinha Onde o índio se apoiou Foi quando a manhã surgiu Mostrando o sangue do Nico pingando dentro do rio Menino cale essa boca! Não demora e chega o Nico Vai te trazer outro bico que é pra ti não chorar mais Veio a manhã, veio a tarde, veio a boieira a luzir Veio a noite grande e morta, a China veio pra porta E nada do Nico vir Veio um dia, mais um dia, veio outro dia depois Ao pé de uma lamparina, vela em silêncio uma China Que de chorar se cansou Numa cama de pelego choraminga sem sossego o piazito babão Choraminga, choraminga porque o pai não trouxe o bico E o que tinha se extraviou