O asfalto queima, o aço reflete Cada esquina tem história que ninguém esquece Nóis constrói em ruína, raiz que não quebra 38 no gueto, é a lei da selva Fusca no chão, nóis raspa o planeta Suspensão é de mola, mas o corre é de letra No Guará nóis respira poeira e fumaça Se o sistema me engole, cuspo de volta na cara Cada pivete que corre com a mente blindada É mais uma peça que escapa do jogo e dá risada Se os cana encosta, nóis já tá ligeiro Viro a curva antes que a sirene faça estrago no meu meio Juliette escura tapa o brilho do olhar Mas cê sente o peso no passo que eu vou deixar Documentos? Só pra quem acredita na regra Aqui nóis anda sem papel, mas com a cabeça que leva A rua é fria, mas nóis tem calor no peito Se o chão é rachado, nóis cobre com respeito Cada roda que gira é um ciclo que se fecha E cada vez que eu piso, deixo mais do que promessa Os pivete olham de longe, querem aprender o esquema Mas não é só puxar gatilho que resolve o dilema Minha arma é estratégia, minha bala é visão Quem sobrevive na selva não depende de ilusão Os becos falam, mas as paredes guardam Histórias que ninguém vê, mas nóis sabe que marcam Se o concreto é pesado, nóis sustenta com garra E o que falta na mesa, nóis completa com a palavra Cimento e fumaça, nóis é o veneno O cinza domina, mas nóis é terreno Peso invisível que move a quebrada Forte no jogo, mas alma marcada Cimento e fumaça, nóis é o veneno O cinza domina, mas nóis é terreno Peso invisível que move a quebrada Forte no jogo, mas alma marcada Fusca lotado, os parceiro tão no esquema Cada um com um corre, mas todos na mesma cena Um acende o cigarro, outro troca o som A trilha é de rua, nóis faz o beat ficar bom Pneu canta na curva, atenção na retaguarda Um movimento errado e nóis vira notícia errada Mas quem é daqui sabe como se manter Entre o aço e a fumaça, nóis escolhe viver No Guará, cada viela tem um dono sem nome Mas cê sente a presença no silêncio que consome Nóis avança, não recua, se a chance aparece Cada passo no escuro é a prova que nóis merece Ninguém viu meu começo, só querem meu final Mas meu roteiro é escrito na trilha marginal Cada curva no mapa tem o rastro da luta E cada verso que eu cuspo tem o peso da conduta Cê quer entender o gueto, mas só vê o topo O que sustenta a cidade é a base do povo Se os prédio tão em pé, foi nóis que construiu Se o luxo tá na mesa, foi meu suor que caiu O mundo gira rápido, mas nóis é ligeiro Quem dorme na favela acorda mais verdadeiro O que me move é o risco, o perigo é rotina Mas quem domina o asfalto sabe onde termina Cimento e fumaça, nóis é o veneno O cinza domina, mas nóis é terreno Minha sombra caminha onde o poste não alcança Onde cada sonho é quebrado antes da esperança Mas nóis não desiste, cada passo tem missão Quem é raiz da quebrada nunca perde a visão Peso invisível, ninguém vê, mas sente O que nóis carrega é história, é corrente Se a rua me fez, a selva me ensina Que quem se mantém de pé, não precisa de vitrina