Eu vou contar pra vocês A história de uma moça bonita e valente Que nasceu num domingo de Carnaval Na hora em que ela nasceu, passava um bloco na rua E esse foi o primeiro som musical que ela escutou E parece que gostou, viu? Porque nasceu quietinha, quietinha E a música entranhou na meninazinha De pequena, ela gostava de ir pra fazenda dos tios no interior E fugia com os primos pra ver os colonos tocarem Inventava que ia ver a vaca nova, e ia pra roda de viola Aprendeu a tocar violão escondida num canto da sala Vendo as aulas de uma tia O pai já havia decretado que artista na família, não Naqueles tempos, moça de família rica E de família pobre também, ué Nascia era pra casar, ter filho e só Mas a meninazinha foi crescendo, crescendo E virou a moça bonita e valente que falei pra vocês Digo e repito, uma moça bonita e valente Que se apaixonou pelos interiores Pelo de dentro O profundo desse nosso país grande e diverso E pela nossa música Mas a moça queria mais Ela queria estrada e horizonte, mato e histórias Melodias e poesia Ela queria redescobrir o Brasil De jipe, barco e avião A cavalo e no lombo de um burro A moça foi percorrendo as entranhas do país E ia vendo e ouvindo tudo com tanta atenção Que sua alma foi ficando grande e larga Como os sertões que ela amava Uma alma tão grande e tão larga Que se derramava nas canções que ela cantava Com sua voz forte por onde passava A moça contrariou o decreto paterno e virou artista Cantora, atriz de cinema, tocadora de viola, imagina Mulher é bicho tinhoso Essa era Era, não É Por que, pra mim, essa moça, a Ignêz Vai existir pra sempre Uma voz tão forte e tão larga Que ainda hoje eu ouço cantar Quando vejo uma Lua grande Um céu estrelado Uma cabocla bonita Ou inté uma mula manca Mas isso, moço, já é uma outra história Vai ouvindo