Torquato sentou, quase às quatro Esperando a sua visita, sua visita favorita chegaria As quatro da tarde, sentado, olho vidrado no relógio Tentava o encarar sem que o relógio percebesse Pro tempo não passar mais devagar, preparou um café Comprou até biscoitos, esperava, sentado, aflito e afoito Quase quatro da tarde, olhou de relance O relógio para provocar, parou por um instante Passou despercebido pelo ponteiro, interfonou para o porteiro Para certificar a demora e o porteiro logo disse Tem ninguém aqui fora! Torquato, tímido, não queria reclamar Mas o ponteiro não parava de girar E a espera foi deixando Torquato meio louco Será que ela não vem? Será que ela não vem? Para de ser nostálgico, Torquato Toda quarta você se porta assim Não se porte perante a porta desse jeito, senão será seu fim Para de ser nostálgico, Torquato Toda quarta você se porta assim Não se porte perante a porta desse jeito, senão será seu fim Torquato, resolveu me ignorar Era dia de quarta, era dia de esperar E a visita não chegava, não passava pela porta Muito menos pela entrada, não apertava o botão Mais minutos de espera e Torquato agonizava no chão Ela não vem mais, Torquato Perceba o relógio marca bem mais que quatro Você espera tão compulsivamente, que dá vontade de falar Dessa sua espera para toda gente Até o relógio tá zombando de você Tá todo mundo vendo que você é louco Torquato, se liga Você não vai ver a sua visita favorita, ela não vai vir hoje Nem na próxima quarta, ela, também, dessa espera está farta Por que você não manda um email? Uma mensagem? Uma carta? Um telegrama? Sei lá, Torquato, grita! Torquato, chama! Torquato me ignorou de novo Preferiu pensar que estava certo E toda quarta-feira tenta de novo o seu método Faz seu café, liga para o porteiro, confere o elevador E a visita nunca vai chegar, porque Torquato esqueceu de enviar Porque Torquato esqueceu de enviar o endereço