A rua não tem dono, só tem predador O Estado é ausente, mas o ódio chegou O povo sem nada, o sistema lucrando Polícia na porta, fuzil calibrando Nascido e criado no gueto sem luz Onde a lei do mais forte que guia a conduta Onde o jovem sem chance, sem grana, sem fé Se envolve no crime, na dor, na labuta Favela trancada, PM na pista Do morro pro asfalto, o alvo é o mesmo Doutor na cidade com taça de vinho Brindando a desgraça de quem morre cedo Sangue no asfalto, grito no escuro Mãe de luto chora, sistema é o murro Menor de fuzil, sem tempo pra sonho Na mira da lei, enterrado no lodo Fardado na esquina, já vem na maldade Revista sem prova, sem dor, sem piedade Se correr, toma bala, se parar, tapa na cara Ficha suja no BO, na favela só falha Governo não investe, só quer me prender Me vê como um monstro, um alvo, um Zé Mas se eu sou produto do ódio e do medo Quem foi que injetou essa merda na pele? Sangue no asfalto, grito no escuro Mãe de luto chora, sistema é o murro Menor de fuzil, sem tempo pra sonho Na mira da lei, enterrado no lodo Eu vi a escola vazia, o presídio lotado O jovem sem livro, mas cheio de enquadro Mídia te vende a versão distorcida Que bandido é quem nasce sem grana na vida Mas eu sei quem lucra com a miséria do gueto Político de terno e banqueiro no centro Enquanto a quebrada se afunda no pranto Eles fazem discurso e contam os bancos É revolta no mic, é um grito sufocado É a lágrima preta, é um povo cansado Se a bala que canta é a voz da justiça Então eu vou rimar até o dia da minha missa