Nascido em catre de Lua Na madrugada campeira Quando o clarão da boiera Queimava a noite charrua Na deusa pampa chirua Filha de Sol e minuano Mamei até o sobreano Sem nunca molhar os cueiros Lá onde os pajés missioneiros Me batizaram vaqueano Na marca da identidade Carrego a estampa de todos Andejos e rapsosos Criados na imensidade O vício da liberdade Adquiri no infinito Desde que o tupã bendito Num gesto paterno e largo Me deu o sagrado encargo De fazer mapa solito Hoje a guitarra das fontes Já não faz bordoneios Morreram os pastoreios As potreadas e os repontes Não vejo nos horizontes O Sol procurando ninho Fiquei no tempo sozinho Prisioneiro da paisagem E após a última viagem Me transformei em caminho Vaqueano! Onde estás vaqueano? Há um eco que me interroga A evolução pôs a soga O meu destino haragano Morre o último pampeano Mas eu, vaqueano, não morro O meu pingo, o meu cachorro Há muito foram proscritos Mas guardo não'alma infinitos Que tempo a dentro percorro